Texto Base: Gn 24 e 29
Textos auxiliares Gn 11:29-30, Gn 12:1-5 e Gn 24:1-4
Introdução
A leitura de gênesis deixa claro o plano de Deus para a família. A família dos patriarcas apresenta em muitos aspectos um modelo a ser seguido, e em outros justamente um modelo inadequado. O fato é que podemos aprender muito sobre as relações familiares com a família da promessa.
No chamado de Abrão (Gn 12:1-5) encontramos uma promessa vinculada a obediência. Abrão deveria sair da terra onde estava, Ur dos Caldeus/Harã (Gn 11:31), onde estavam seus parentes, inclusive seu pai, para que seguisse à uma terra que o Senhor o mostraria. Obedecer ao Senhor algumas vezes nos parece estranho, mas sem dúvida é sempre o melhor. Por meio da obediência de Abrão e vários eventos subsequentes todas as famílias da terra foram abençoadas, afinal desta família vem o nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo.

Casamentos
“Só há duas maneiras de se entrar em um casamento. Uma é arranjando um cônjuge por conta própria por meio da corte (aquela conquista amigável entre um homem e uma mulher); a outra é tendo um casamento arranjado (persuasão amigável feita por uma terceira pessoa). Alguns pensam que há uma terceira possibilidade – por meio de oração e mágica, com Deus provendo um cônjuge de maneira miraculosa, sem intervenção humana. Porém isso parece não ter base bíblica nem confirmação pela experiência” 1.
Quando pensamos em casamento, o casamento dos patriarcas envolve essas duas formas: casamentos arranjados e casamentos desejados. O livro de Gênesis nos trará casamentos também como acordos e teremos muitos pontos de reflexão. Mas que não esqueçamos também do livro de Cânticos, o qual traz princípios para um amor apaixonado.
“Portanto, que haja um equilíbrio entre o sonho apaixonado do Cântico dos Cânticos e a realidade do dia-a-dia do livro de Gênesis, um balanço entre encantamento mútuo e obrigações mútuas. É isso que nos leva e nos prende à visão prudentemente realista do casamento.”2
Abrão e Sara – Não temos muitos detalhes sobre o início do relacionamento de Abraão e Sara; sabemos que o chamado envolvia o casal (Gn 17:5-8 e 15-16). Sabemos que Sara era uma mulher bonita (Gn 12:11) aos olhos de Abraão. É importante salientar que esse casal vivenciou vários problemas familiares e conjugais, no entanto, comemoraram muitas bodas juntos. É possível que tenham ficado mais do que 75 anos casados e o casamento deles termina com a morte de Sara (Gn 32:1). O que podemos aprender é que as adversidades virão, mas a certeza do chamado que temos para vivenciar o relacionamento em família nos fará ficar firmes e lutando pelo relacionamento. Não é o amor que mantém o relacionamento, mas o relacionamento mantém o amor. O amor é uma decisão evidenciada em atos de amor.
Isaque e Rebeca – Abraão, quando já em idade avançada, se preocupa com a esposa de Isaque, seu filho (Gn 24:1-4). Isso evidencia para nós, pais, que também temos que auxiliar nossos filhos na escolha de seus cônjuges, embora só possamos aconselhar e orar, porque a decisão será de cada um. No caso de Isaque, houve um casamento arranjado. O servo ora e pede estratégias para escolher uma mulher para Isaque como recomendou Abraão. A história do encontro de Rebeca é inspiradora, mas não podemos fantasiar que todas as histórias serão assim. Isaque e Rebeca também têm um casamento duradouro, embora cheio de eventos conturbados.
Jacó, Lia e Raquel – Isaque, por sua vez, também se preocupa com as esposas de seus filhos e os aconselha (Gn 28:1,2-8-9). Esaú desagrada seus pais e faz o que deseja. Já Jacó, neste ponto, obedece a seus pais. Obedecer aos pais é um mandamento o qual inclui qualidade de vida. Jacó, por outro lado, parece um pouco mais ativo que seu pai Isaque na escolha de sua esposa, e, como também está fugindo de seu irmão Esaú, ele acaba encontrando Raquel em um local semelhante ao que o servo encontrara a esposa para seu pai. Isaque e Rebeca nos inspiram em um amor que pode ser construído a partir do relacionamento e do desejo de amar. Já Jacó indica um amor que já se inicia com intensidade (Gn 29:18), mas que precisa esperar até que o pai conceda a benção para o casamento dos dois (Gn 29:14-30). Acontece que o pai de Rebeca elabora um plano para que sua filha mais velha também se casasse com Jacó. Jacó foi enganado e recebe a filha Lia como esposa. Mas Jacó questiona Labão, que promete então que na segunda semana de casado dará também Rebeca para que se case com Jacó. Então Jacó se casa com as duas, embora tenha amado mais Raquel.
“O engano de Labão foi transformado por Deus em meio para a formação da família da promessa”1
“Abraão, o viúvo da mulher bonita, fez questão de sepultar a esposa na terra prometida (…) Lá foram sepultados o próprio Abraão (38 anos mais tarde), Isaque e Rebeca, Jacó e Lia (Gn 25:9; 49:29-32; 50:13).”3
O fato de Lia ter sido sepultada com Jacó revela que ela foi honrada.
Posso ter me casado com a pessoa errada? Nem sempre quero estar casado com essa pessoa!
Em algum momento, podemos nos perguntar: será que me casei com a pessoa certa? Casei por conveniência, casei pela paixão… Não era a pessoa certa. Precisamos ser realistas de que a palavra de Deus não nos leva a crer que existe uma pessoa certa. A pergunta e a exclamação deste título já podem ter passado por sua cabeça.
Observem que na matemática do Gênesis, um mais um formarão um, portanto não são duas metades que se encaixam para formar um, são dois inteiros. Existe, no meio cristão e não cristão, o “mito da pessoa certa”3, como se estivéssemos em um labirinto que é a vida, precisando encontrar essa pessoa, porque só com ela seríamos felizes e, se tomarmos a escolha errada, “já era”. ISSO NÃO É VERDADE! ISSO NÃO É BÍBLICO!
Certamente Deus precisa estar na nossa escolha do cônjuge, assim como nossos pais e a direção da palavra, porém essa escolha não é mágica e precisa inclusive ser racional.
Bom, mas estamos falando para casados, pessoas que já fizeram suas escolhas. Neste sentido, não podemos procurar o pastor para dizer: meu casamento vai mal porque “casei com a pessoa errada”. Já sabemos que isso não existe!
O que fará o casamento “dar certo” não é uma força mística de encaixe entre as partes, mas dois corações tementes ao Senhor que entendam seu papel na família, que se amem com amor que tudo sofre, tudo espera e ainda que compreendam e pratiquem o sentido do companheirismo, o qual já era o projeto de Deus desde o Éden.
A história de Jacó nos ensina um pouco sobre isso, embora seja bem “anti-romântico”. Na prática Jacó e Lia encontraram estratégias para manterem um casamento honrado. O vazio e falta de amor de Jacó fizeram com que Lia se achegasse a Deus e percebemos isso pelos nomes dados aos seus filhos. Assim como Lia, quando estamos vivenciando falta de amor, precisamos nos achegar a Deus, assim podemos pedir “Senhor, aumenta o sentimento que temos um pelo outro”; “Me ensine a respeitar meu marido”; “Me ensine a ser um bom marido para minha esposa”.
Algo muito ruim para o casamento é começarmos, ou estarmos casados, pensando que podemos “sair disso” a qualquer momento. Isso fará com que não estejamos dispostos a ceder, a nos corrigir e a trazer a harmonia para o lar. Isso trará insegurança para o relacionamento e não é saudável.
O livro “Espiritualidade na prática”1, no seu capitulo sobre casamento, nos traz algumas dicas importantes para o casamento sobre a perspectiva de Jacó e Lia.
1) Há uma necessidade de persistência – todos casais têm lutas e alegrias, precisamos ser fiéis à aliança que fizemos em todos os momentos. Isso exige atitudes de persistência.
O que seriam atitudes de persistência?
2) Há necessidade de criatividade no companheirismo, no cuidado mútuo e na vida sexual – Lia mantinha linguagens do amor abertas e criativas. Precisamos encontrar maneiras de refletir “eu amo você” em cada fase do casamento.
Como dizer “eu te amo” de formas criativas e assim exercer cuidado mútuo e companheirismo?
3) Há uma necessidade de contentamento – Raquel queria ter o que Lia tinha, e Lia o Raquel tinha. Nossas relações no padrão de Deus são monogâmicas, mas isso ilustra que precisamos de um contentamento e gratidão pelo que temos. Essa impressão de que sempre nos falta algo, ou de que nada está bom no nosso relacionamento é muito prejudicial.
Como podemos demonstrar contentamento nos relacionamentos?
Caso ainda não tenha completado o tempo da lição vale a pena ler a parte do amor altruísta, responsável, espiritual e verdadeiro na sessão do “Time dos Solteiros”.
Namorar ou não namorar? Eis a questão!
Sinto informar que dificilmente aparecerá uma mão na parede escrevendo em letras garrafais com quem você deve se casar. Também precisamos desmentir o “mito da pessoa certa”, como se só houvesse uma possibilidade de casamento correto para você e você precisa descobrir no meio do mundo de pessoas qual é essa pessoa. Isso não é bíblico. Na matemática do Gênesis, dois inteiros se unem formando um. E não duas metades que precisam se encaixar. Mas isso não significa que não precisamos nos encaixar nos relacionamentos, significa que esse encaixe nunca será perfeito. Estamos sempre nos moldando para sermos como Jesus.
O namoro para o cristão é uma preparação para o casamento, um momento de conhecer o outro, amadurecer o relacionamento, limitando as relações físicas para preservarmos o outro.
Sobre quando namorar e como escolher um namorado(a) é que queremos discutir hoje4.
Como escolher? Alguém tem alguma sugestão?
1) Leia a bíblia – a bíblia não lhe dirá com quem se casar, mas lhe dirá muito sobre o assunto. (1Co 7:39 2Co 6:14).
2) Procure bons conselhos – Na multidão de conselhos há sabedoria. Seus pais e amigos acham que você vai crescer e florescer na companhia dessa pessoa ou acham que você fica frustrado e mal-humorado quando está junto dela?
Com base no livro “Faça alguma coisa” elencamos algumas dicas para amparar sua escola.
3) Ore – Peça a Deus motivações corretas, puras. Não se case por desejo de relações sexuais, por questões financeiras ou até mesmo por medo de ficar sozinho.
4) Tome uma decisão – Não há nada de errado em ser solteiro! Porém não dá pra esperar que Deus vá tirar outra Eva de sua costela. É preciso decidir se relacionar e sua decisão precisa ser em direção a desenvolver um amor altruísta, responsável, espiritual e verdadeiro.
Segundo Rubem Amores4, o amor que precisamos desenvolver em nossas relações é altruísta, responsável, espiritual e verdadeiro.
O amor altruísta é aquele que pensa no outro, na sua família, nos seus amigos e na sua igreja. Ele nunca dirá “quero que você me aqueça neste inverno e que tudo mais vá pro inferno”
O amor responsável considera, quanto a idade lhe permita, as consequências de seus atos. Responde perante si, perante Deus e perante o outro.
O amor espiritual é o que envolve a vida devocional, mas também busca conhecer o outro em termos de sonhos, família, valores, alegrias, receios, com o objetivo de harmonizar seus mundos, dentro do possível.
O amor verdadeiro é aquele que busca a verdade. Reconhece a virtude e elogia, percebe a luta e conforta; chama o pecado pelo nome, pede perdão e perdoa.
“Acho que pelas características de idade, pensamentos prós e contras, adolescentes deveriam limitar seus relacionamentos afetivos a boas e abertas amizades. É melhor esperar”. Opinião do autor4
Conclusão
“A maturidade não é algo que possa ser obtida com livros de autoajuda, bons seminários ou religião orientada ao consumidor. Ela vem somente através das experiências longas e difíceis da vida, de algumas das mais duras e decepcionantes circunstâncias, que, se direcionadas para Deus, tornam-se cruciais para a edificação da fé e da verdadeira santidade. Isso pode acontecer em nossos casamentos (ou na vida de solteiro), bem como em nosso local de trabalho.1”
Referências
1 Stevens, Paul R. A Espiritualidade na Prática: Encontrando Deus nas coisas simples e comuns da vida. Tradução Jorge Camargo. Viçosa, MG: Ultimato, 2006.
2 Casamento: encantamento com obrigações e obrigações com encantamento, disponível em: https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/294/casamento-encantamento-com-obrigacoes-e-obrigacoes-com-encantamento acessado em 10 de abril de 2019.
3 Abraão e Sara, disponível em: https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/283/abraao-e-sara Acessado em 10 de abril de 2019.
4 Young, Kevin. Faça alguma coisa: uma abordagem libertadora sobre a vontade de Deus em sua vida. Traduzido por A. G. Mendes. São Paulo, Mundo Cristão, 2012.
5 Amorese, Rubem. Namorar ou não namorar. Revista Ultimato nº 376, março/abril 2019.
