Texto Base: Hb 12:16-17
Texto Auxiliar: Gn 43
Introdução
Fazer as refeições em família é mais do que simplesmente se alimentar e ingerir nutrientes. Embora isso também seja extremamente necessário. O ato de nos alimentarmos juntos promove comunhão e intimidade. O ato de comer pode trazer diversas consequências para o corpo e para alma. É crescente o número de refeições rápidas e instantâneas que nos poupam tempo de prepará-las e até mesmo de comê-las. No entanto, assim como a alimentação saudável exige alimentos balanceados e equilibrados, o ato de comer também exige equilíbrio. Nem sempre conseguimos nos reunir em família para comer, até mesmo pela correria do dia-a-dia. Mas sempre que possível, aos finais de semana, devemos priorizar esse ato.
O ato de nos alimentarmos juntos implica muitas vezes em conhecer e servir ao outro. Casais que comem juntos podem aproveitar o momento para estreitar os laços, filhos encontram inclusive nas escolhas dos pais modelos de alimentação. É importante valorizarmos momentos simples que envolvam toda família, assim como o sentar em volta da mesa para saborear uma deliciosa refeição. “Quando queremos companhia de alguém repartimos o pão”1.
Na mesa do Jantar… Relembrando a família da promessa
Se muitas coisas boas podem acontecer na mesa do jantar, enquanto fazemos refeições, também coisas ruins podem acontecer neste mesmo ato. Quando proferimos palavras depreciativas ou agimos com falta de sabedoria podemos fazer deste momento de comunhão um momento de desgaste familiar.
“Vale destacar que Esaú perdeu seu lugar na família (a primogenitura) e a transmissão da promessa da bênção de Deus à mesa do Jantar.”
Buscando satisfazer seus instintos por uma refeição, algo transitório, Esaú vende sua bênção. Algumas vezes, procurando uma satisfação momentânea, seja pela comida ou não, acabamos desobedecendo ao Senhor.
O modo como nos alimentamos diz muito sobre nós.
“Assim como disse acerca de Esaú e de Jacó. Um tinha inveja do que o outro possuía. Esaú tinha inveja da comida de Jacó; Jacó tinha inveja da posição de Esaú na família. O coração de cada um deles foi revelado no comer. Todos ficamos vulneráveis quando estamos à mesa”.
Em Gênesis 43, os irmãos de José se sentam à mesa com ele, em uma refeição, sem que soubessem quem era José. Essa refeição em família parece ser o primeiro passo para uma restauração, embora o perdão não ocorra neste momento. Mas foi a estratégia usada por Deus para salvar Israel da fome que assolaria o povo nos tempos de seca.
Em nossos momentos de refeição, temos desfrutado da companhia de nossa família? Ainda que aos finais de semana?
Como fazer do ato de comer um momento para comunhão em família?
Coisas simples, mas fantásticas
Podemos fazer do nosso tempo, momentos preciosos em família. E não necessariamente em coisas que envolvam grandes quantidades de recurso. Se a refeição em família parece ser o primeiro passo para uma restauração entre os irmãos de José, o que vai gerar um futuro encontro com seu pai Jacó, podemos também fazer de nossas refeições momentos para reencontros e restauração. Mas não só as refeições, como também outras atividades simples em família.
É importante que os cristãos não se comportem como o líder religioso Eli (1 Sm 2:12-36) que entendeu que seu chamado no lar era algo complementar e que seu ministério sacerdotal era o principal. Assim, não podemos dedicar tempo para nosso trabalho, nossa igreja e esquecer que nosso lar é um ministério dado pelo Senhor. Claro que precisamos do nosso trabalho e nossa igreja e els são também ministérios dados pelo Senhor. Mas precisamos servir nossa família como atitude de mordomia ao Senhor.
Quando foi a última vez que a família tirou férias junto? O que vocês fizeram de legal?
“Se os recursos são limitados, talvez você possa aproveitar esse tempo de férias para construir um carrinho de rolimã junto com seu filho ou costurar belos vestidos de boneca com sua filha; construir “castelos” com caixas de papelão – dê asas a sua criatividade e tenho certeza de que poderá desfrutar de férias fantásticas em família”.2
Ainda pensando nas coisas boas e ruins que podem acontecer ao redor da mesa, durante as refeições e com base na família da promessa, precisamos prestar atenção em nós, nossos cônjuges e nossos filhos. Pois a primogenitura de Esaú, embora tenha sido vendida em um ato, ela foi perdida aos poucos. Nossas relações podem estar se perdendo aos poucos e com atenção, amor e temor a Deus podemos resgatá-las.
“Nenhum homem vende sua primogenitura em um só ato. Aquele que vende sua primogenitura a vende muitas vezes em seu coração antes de expô-la abertamente ao mercado, como fez Esaú. Ele a deprecia, despreza, barateia de todas as formas para si mesmo, antes de vendê-la tão barato a outro… Todos sabiam que a primogenitura de Esaú estava a venda para qualquer um que quisesse fazer uma oferta por ela. Isaque sabia, Rebeca sabia e Jacó sabia; havia muito ele observava seu irmão à espera de uma oportunidade para comprá-la.”3
Precisamos ter um olhar atento para nossa família! Sempre é tempo de começar!
Em Gn 25:27-28, notamos que Isaque e Rebeca tinham preferências por filhos diferentes. Aparentemente, o filho mais forte, o perito caçador, foi a escolha do pai e Jacó, “homem sossegado”, o preferido da mãe. Essa escolha frequentemente gera inveja e consequências ruins na família. Cada filho é único e, em seu tempo, o equilíbrio é sempre a melhor forma de relacionar com todos eles. Jacó também comete o mesmo erro ao se relacionar com seus filhos mostrando preferências por José, o que também despertou inveja nos irmãos e as consequências foram usadas por Deus para salvar a família da promessa.
No ato em que Jacó engana seu pai, Isaque, servindo-lhe uma refeição, Isaque pede que seu filho se aproxime e lhe dê um beijo (Gn 27:26). Jacó parece representar aquele filho que tudo faz para obter carinho e atenção de seu pai, que claramente não o prefere. Percebemos assim, o quanto o equilíbrio e a dosagem entre a atenção que é dada aos filhos são importantes para o desenvolvimento deles.
Estamos tendo atenção e equilíbrio em relação à dedicação que damos aos filhos?
Uso de mídias, equilíbrio sempre!
Falamos da importância das refeições e outros momentos de comunhão em família.
Sabe aquela hora que a alface entra no dente? E fica horrível de ver? Então… tem muita intimidade no ato de comer junto!
Inclusive, por esse motivo, às vezes não gostamos de comer próximo de algumas pessoas.
Ficar junto no momento da refeição é estar vulnerável, porque muitas emoções são percebidas no ato de comer.
Precisamos prestar atenção nas pessoas em nossa volta e principalmente em nossa família, nossos pais e irmãos. E o momento da refeição é ótimo para isso! Em geral, a ansiedade, tristeza, alegria e outros sentimentos provocam alterações que podem ser visualizadas na forma de comer. Comer junto é um ato de intimidade.
Como são as refeições em sua família? O que pode ser melhorado?
Mas um alerta que precisamos ter é quanto ao equilíbrio do uso de mídias interativas, como o celular. Algumas vezes, o uso dessas mídias tem roubado o tempo que poderíamos ter com nossas famílias e amigos.
“Como sou um observador, reparei que rapidamente todos se assentaram e cada um puxou do bolso um smartphone e começou a teclar. Só se deram conta de ler o cardápio muito tempo depois e, logo que fizeram os pedidos, voltaram a seus aparelhos, permanecendo envoltos em seus próprios mundos virtuais durante toda refeição.”4
Algumas comunidades adotam o dia do “desconecta”, momento em que se dedicam a fazer atividades essencialmente do mundo real e não virtual, isso inclui passeios em família e com amigos. O momento das refeições é, sobretudo, um momento de comunhão e de intimidade. Portanto, é um momento excelente para mantermos as conexões virtuais distantes. Sabemos de todos os avanços promovidos pelas mídias interativas, permitindo inclusive aproximação de famílias que se encontram geograficamente distantes, mas próximos pela comunicação virtual e o amor real.
Destacamos também que, ao interagir mais no mundo virtual do que no real, perdemos a oportunidade de nos relacionarmos melhor em família. Não adianta ter 300 amigos no Facebook se não são pessoas com quem eu posso contar. Além disso, o mundo virtual induz algumas vezes à ostentação, não só financeira, mas também emocional, afinal naquele mundo nossas fotos em geral são em locais bonitos, com lindo sorrisos nos rostos.
“De forma alguma sou contra a tecnologia, mas penso que a moderação em todas as coisas é padrão de saúde. Pais devem desde cedo, estimular os filhos a um processo interativo, suplantando cansaços diários e brincando com os filhos, e nesse brincar promover diálogo. De igual forma, cônjuges devem aprender a “relaxar” no acolhimento da intimidade com o outro e não diante da enxurrada de informações vazias dos eletrônicos. É preciso resistir à sedutora proposta midiática, que nos isola e egocentriza, aprendendo usar a tecnologia com sabedoria e prudência, lembrando que domínio próprio é fruto do Espírito Santo (GL 5:22).”4
“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.” I Co 6:12
Como estamos usando os recursos de mídia?
Como a falta de equilíbrio poderia afetar nossas relações pessoais em família?
Conclusão
Na família, temos um compromisso sério com diálogo, com a relação e comunhão! Sejam nas refeições ou em outras situações simples em família teremos momentos fantásticos se estivermos atentos uns aos outros.
Referências
1Stevens, Paul R. A Espiritualidade na Prática: Encontrando Deus nas coisas simples e comuns da vida. Tradução Jorge Camargo. Viçosa, MG: Ultimato, 2006.
2Casamneto e família – Férias em Família – Coluna de Carlos “Catito” e Dagmar Grzybowski, Revista Ultimato nº 358, Janeiro/Fevereiro, 2016, p. 32.
3Whyte, Alexandre. Bible Chacters: Adam to Achan. Edimburgo: Oliphants, s/d. p. p. 164 citado por Stevens, Paul R. A Espiritualidade na Prática: Encontrando Deus nas coisas simples e comuns da vida. Tradução Jorge Camargo. Viçosa, MG: Ultimato, 2006.
4Casamento e família – A midiotização da família – Coluna de Carlos “Catito” e Dagmar Grzybowski, Revista Ultimato nº 355, Julho/Agosto, 2015, p. 32.
