Quando Martinho Lutero pregou suas 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em 31 de outubro de 1517, ele não pretendia criar uma nova denominação, mas chamar a Igreja de volta à verdade. Movido por uma profunda angústia quanto à própria salvação e pelo escândalo da venda de indulgências, Lutero redescobriu uma verdade que abalaria o mundo: a justificação não vem por obras, mas “tão somente pela fé” (Sola Fide).
Hoje, 508 anos depois, nós, como batistas, nos alegramos e celebramos este dia. Somos, sem dúvida, herdeiros da Reforma Protestante. Abraçamos com fervor os pilares que redefiniram a fé cristã e a reconduziram às suas raízes bíblicas.
Os pilares que todos celebramos
A Reforma nos legou os “Cinco Solas”, que são o alicerce da nossa teologia e o coração do Evangelho redescoberto:
Sola Scriptura (Somente a Escritura): A Bíblia é a nossa única regra de fé e prática. A autoridade final não está em tradições ou concílios, mas na Palavra de Deus — inspirada, inerrante e suficiente.
Sola Fide (Somente a Fé): Somos declarados justos diante de Deus unicamente por meio da fé em Jesus Cristo, e não por nossas obras ou méritos.
Sola Gratia (Somente a Graça): A salvação é um dom gratuito de Deus. Não a merecemos; ela nos é concedida pela Sua graça soberana.
Solus Christus (Somente Cristo): Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e os homens. Nossa salvação foi conquistada exclusivamente por Sua vida perfeita, morte expiatória e ressurreição.
Soli Deo Gloria (Glória Somente a Deus): Toda a glória pela salvação e pela criação pertence unicamente a Deus.
Como batistas, esses não são apenas slogans históricos; são o ar que respiramos teologicamente.
A Reforma da Reforma: onde a convicção batista brilha
Entretanto, ser batista é mais do que ser herdeiro da Reforma de Lutero ou Calvino — a chamada Reforma Magisterial (que mantinha a aliança entre Igreja e Estado). Nossas raízes também se alimentam da Reforma Radical.
Os primeiros batistas, aplicando o princípio do Sola Scriptura com rigor absoluto, fizeram perguntas que levaram a Reforma um passo adiante — muitas vezes, à custa da própria vida, perseguidos tanto por católicos quanto por outros protestantes.
Se a Bíblia é realmente a única autoridade (Sola Scriptura), então:
Onde a Escritura ensina o batismo infantil?
Os batistas concluíram que o batismo não é um rito de entrada na cristandade nem um meio de graça salvífica para o bebê. Em vez disso, é um testemunho público e obediente de quem já exerceu a Sola Fide (fé somente). Por isso, praticamos o batismo consciente (ou batismo de crentes). O batismo não salva; ele declara que já fomos salvos.Onde a Escritura ensina uma igreja controlada pelo Estado?
Os reformadores magisteriais mantiveram a união entre Igreja e Estado. Os batistas, porém, ao lerem a Bíblia, viram que a Igreja (ekklesia, “assembleia dos chamados para fora”) é composta apenas por crentes regenerados.
Isso levou a duas convicções fundamentais:
Autonomia da igreja local: cada congregação é soberana sob a autoridade de Cristo, e não de um bispo, sínodo ou governo.
Separação entre Igreja e Estado: a fé não pode ser imposta pelo poder civil. Defendemos a liberdade de consciência — não apenas para nós, mas para todos. A fé genuína deve ser livre.Onde a Escritura limita o sacerdócio?
A Reforma ensinou o “sacerdócio universal de todos os crentes”, e os batistas levaram essa verdade à sua aplicação prática: se todos somos sacerdotes, então cada crente tem acesso direto a Deus por meio de Solus Christus e participa ativamente da vida e das decisões da igreja local.
508 anos depois: por que isso ainda importa
Celebrar a Reforma Protestante em 2025 não é apenas um exercício de memória histórica. É um chamado vibrante para a Igreja Batista Central de Diamantina — e para todos nós hoje.
É um chamado à coragem: assim como Lutero, devemos estar dispostos a defender a Palavra de Deus, mesmo quando isso for impopular.
É um chamado à pureza doutrinária: devemos zelar para que o Evangelho da graça (Sola Gratia, Sola Fide) jamais se misture com o legalismo ou com as obras.
É um chamado à responsabilidade: nossa identidade batista nos lembra o privilégio e o dever de ler as Escrituras (Sola Scriptura), viver a fé de forma consciente e proteger a liberdade pela qual tantos morreram.
No último dia 31 de outubro, celebramos os 508 anos da faísca que Lutero acendeu — e também a coragem daqueles que, armados apenas com a Bíblia, levaram essa chama à sua conclusão lógica, dando origem às convicções que definem quem somos como batistas.
Que possamos permanecer fiéis a essa herança, vivendo em tudo o que fazemos…
Soli Deo Gloria! (Glória Somente a Deus!)

